Nesta terça-feira (19/11), a Câmara Municipal de Bauru realizou a sessão solene para a entrega do Prêmio "Zumbi dos Palmares" às três homenageadas deste ano: a servidora pública municipal Vanessa Garcia, a psicóloga Luciana Dantas de Oliveira e a babalorixá Donizete Aparecida Ferreira. Criada em 2013, a premiação reconhece cidadãos ou instituições locais que se dedicam à luta contra o racismo e pela inclusão da comunidade negra na vida socioeconômica e político-cultural da cidade.
Os vereadores Estela Almagro (PT), Julio Cesar (PP) e Professor Carlos Massa (União Brasil) participaram da cerimônia, que também contou com a presença de membros do Conselho Municipal da Comunidade Negra (CMCNB).
Estiveram ainda presentes: Laís Cristina Martins, diretora do Departamento de Ação Cultural da Secretaria Municipal de Cultura; José Carlos de Souza Pereira, ex-vereador de Bauru; Valéria Maria Santana, representante da Academia Bauruense de Letras; Angélica Alcântara, da Comissão de Igualdade Racial da OAB em Bauru; Camila Fernandes, diretora da Regional Bauru do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo; e Donizete Aparecida Cecílio Ferreira, do Centro Espiritual de Umbanda e Candomblé “Cabocla Jurema”.
Entrega do Prêmio
A sessão solene foi presidida pela vereadora Estela Almagro e teve início com a execução do Hino Nacional Brasileiro, interpretado pelo Grupo WÉ TÓ ILÚ (Tambores Para Louvar os Grandes). Em seguida, o Centro Cultural “Tobias Terceiro” apresentou a performance “O Leão Negro de Palmares”, uma homenagem a Zumbi dos Palmares.
Os vereadores Julio Cesar e Professor Carlos Massa realizaram a entrega do prêmio às homenageadas. Logo após, a presidente do Conselho Municipal da Comunidade Negra, Sebastiana de Fátima Gomes, usou a tribuna para ressaltar a importância histórica de Zumbi dos Palmares e enaltecer as trajetórias de Vanessa, Luciana e Donizete.
Sebastiana destacou que Donizete é uma grande babalorixá, que enfrenta diariamente o preconceito religioso. Também lembrou a atuação de Luciana no CRAS Nova Esperança, onde contribui para resgatar a dignidade das pessoas por meio do atendimento psicológico que oferece à população. Mencionou ainda o papel decisivo de Vanessa na concepção do primeiro edital de fomento à cultura negra na cidade.
As homenageadas também fizeram uso da palavra. Vanessa agradeceu o reconhecimento e compartilhou sua trajetória: “Chegar até aqui não foi fácil. Foi um caminho longo, cheio de pedras, mas as pedras me ensinaram muitas coisas boas. Foi pulando uma por uma que fui aprendendo na pele o que é ser mãe, mulher, chefe, representante de um povo, colega de trabalho, amiga e diretora”, afirmou. “Estou orgulhosa pela garota da periferia, hoje, poder ser a garota que leva cultura para muitos pontos da cidade”, acrescentou.
Emocionada, Luciana reforçou que, para as mulheres negras, lutar contra o racismo é mais do que uma ideologia: “É uma questão de necessidade para que a gente sobreviva, para que possamos dar continuidade à nossa existência, à dos nossos filhos, àqueles que virão após nós e honrar aqueles que nos ensinaram e vieram antes de nós”, afirmou a psicóloga.
Donizete também fez questão de lembrar que Zumbi dos Palmares é um símbolo eterno de resistência, liberdade e coragem para a comunidade negra. “A história de Zumbi nos convida a refletir sobre o poder coletivo, a força da ancestralidade e a importância de não nos curvarmos diante da injustiça. Sua luta não era apenas contra os grilhões físicos, mas contra as correntes invisíveis da desumanização”, destacou a babalorixá.
A história das homenageadas
Vanessa Garcia é servidora pública municipal há 14 anos. Ela já atuou na área de Habitação de Interesse Social da Prefeitura de Bauru e como facilitadora do Programa Time do Emprego. Em 2014, foi reconhecida pela Secretaria do Emprego de São Paulo como a facilitadora que mais aplicou empregabilidade nas periferias da cidade.
Atualmente, Vanessa é diretora da Divisão de Bibliotecas. Criadora do projeto "Biblioteca Móvel", ela também realiza trabalhos de letramento racial junto aos grupos antirracistas "WÉ TÓ ILÚ", "Centro Cultural Vera Cruz" e "Magia da Capoeira". O objetivo é combater o preconceito e o bullying nas escolas e na sociedade bauruense. A servidora também foi membro do Conselho da Comunidade Negra por três anos e é poetisa.
Donizete Aparecida Ferreira, também conhecida como Mãe Zete de Oya e Mãe Zete de Matamba, é líder religiosa da Casa de Culto de Ancestrais Africanos N'zo Jurema, fundadora do Bloco Pérola Negra e do Centro Cultural Pérola Negra.
Como empresária, a babalorixá comanda uma empresa de limpeza e uma loja de artigos religiosos ligados aos cultos afro-brasileiros. Paralelamente, ensina e divulga músicas, lendas e tradições do Povo de Angola.
Luciana é mãe solo de uma menina negra e oriunda de uma família com uma matriarca negra de 102 anos, que é inspiração para todos. Formada em Psicologia, ingressou na Prefeitura de Bauru em 2015. Após uma passagem por Tibiriçá e pelo programa Minha Casa Minha Vida, começou a trabalhar com grupos focados no fortalecimento social e no combate às violências, principalmente de gênero.
Especializada em Psicologia Jurídica pela Unisagrado, Luciana é autora de uma monografia sobre racismo institucional, violência contra a mulher negra e o papel do psicólogo jurídico. Em 2020, quando foi transferida para o CRAS Nova Esperança, começou a desenvolver atividades coletivas com foco no enfrentamento da desigualdade social e no combate às violências de gênero, classe e raça. Com parcerias territoriais e institucionais, ajudou a criar o coletivo "As Saletas", composto por mulheres em situação de vulnerabilidade.
Luciana também desenvolveu um projeto de horta comunitária como estratégia de fortalecimento e pertencimento social. O grupo que mantém com mães gestantes e mães de crianças do projeto "Wise New" visa fortalecer essas mulheres e fomentar a consciência de raça, gênero e classe para combater a desigualdade.
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