Em audiência, academias e profissionais da educação física defendem condições e segurança para a retomada gradual de atividades

- Vinicius Lousada

Posição é compartilhada pelo secretário municipal de Esporte e Lazer, mas não encontra respaldo da Secretaria de Saúde nem do Comitê de Crise criado pelo prefeito Clodoaldo Gazzetta

Em Audiência Pública realizada nesta quarta-feira (24/06), representantes de academias, centros de treinamento físico, personal trainers e do Conselho Regional de Educação Física (Cref) defenderam dispor de condições sanitárias para garantir a retomada gradual, com segurança, de suas atividades, a partir de protocolo com medidas de prevenção à transmissão do novo coronavírus. Assista à íntegra

O encontro foi chamado pelo vereador José Roberto Segalla (DEM) e contou também com a participação dos parlamentares Chiara Ranieri (DEM), Fábio Manfrinato (PP), Mané Losila (MDB), Natalino da Silva (PV) e Telma Gobbi (PP).

Em razão da pandemia, as academias e os centros físicos estão fechados há quase 100 dias.

A posição da Secretaria de Saúde e do Conselho de Crise criado pelo governo municipal é de que o cenário epidemiológico ainda não permite novas flexibilizações.

Preocupação semelhante foi externada pelo representante do Conselho Regional de Medicina (CRM), Fábio Sgarbosa.

O médico, entretanto, não teve acesso ao protocolo proposto pelo CREF e pela Associação Brasileira de Academias (ACAD), mas observou que o coronavírus passou a ser estudado há apenas seis meses e informações mais aprofundados sobre seu comportamento ainda estão sendo pesquisadas.

Já o secretário de Esporte e Lazer, Alexandre Zwicker, acredita que as academias e estabelecimentos do ramo possuem condições de controlar os ambientes, diferentemente do que vem ocorrendo em praças e campos comunitários, especialmente em regiões periféricas, onde partidas de futebol e outras práticas com aglomerações não foram interrompidas pela pandemia.

Sobre as práticas esportivas em piscinas, o gestor disse ainda haver apontamentos de que o coronavírus não resiste a dosagens de cloro.

Restrição estadual

O Plano São Paulo para o enfrentamento à COVID-19 estipula que as academias sejam reabertas apenas nas regiões enquadradas na quarta fase (azul); Bauru está na segunda (laranja).

Representando o Comitê de Crise, o secretário do Meio Ambiente, Airton Martinez, pontuou que, ainda assim, o município autorizou o atendimento nesses estabelecimentos a clientes com recomendações médicas para a prática de atividades físicas.

Práticas esportivas individuais e ao ar livre também estão autorizadas.

Diretor do Departamento de Saúde Coletiva, Luiz Cortez afirmou que estudos apontam haver alto risco de contágio em academias, onde prevalecem ambientes fechados, com pessoas ofegantes e partículas de suor.

Já o secretário de Saúde, Sergio Henrique Antonio, alertou para a crescente de casos positivos para o coronavírus em Bauru e os reflexos já observados nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e no telefone 192, do Samu, onde cresceu a procura por pessoas com sintomas de síndrome gripal.

Vereadores

Presidente da audiência, o vereador Segalla pontuou que outras cidades, como Araraquara, mesmo na fase laranja, reabriram as academias e autuam aquelas que não seguem as regras pactuadas.

O parlamentar disse ainda que, a partir dos protocolos propostos, que podem ser ainda mais enrijecidos pela administração, a Prefeitura pode sustentar cientificamente a segurança na retomada gradual das atividades em caso de ações judiciais, inclusive por parte do governo de São Paulo, questionando eventual decisão pela retomada.

Presidente da Comissão de Esporte, o vereador Fábio Manfrinato defendeu a busca pelo equilíbrio entre as recomendações sanitárias e as necessidades das empresas e dos profissionais, que perderam substancialmente receitas e rendas, desde o fechamento das academias e centros de treinamento físico.

Chiara Ranieri reiterou a posição já defendida em Moção de Apelo de sua autoria, por meio da qual pede que o prefeito Clodoaldo Gazzetta reconsidere a decisão de manter fechados esses estabelecimentos.

Ela disse ainda que, além das normas e cuidados que serão respeitados pelos empresários e profissionais, haveria natural redução de público em razão do receio de muitas pessoas em voltar a frequentar as academias.

Argumentação

Delegado do CREF, Ademir Testa Jr. pontuou que a volta estaria vinculada a medidas como a limitação do número de alunos e de equipamentos utilizados, para garantir o distanciamento.

Aulas coletivas de ginástica, por exemplo, seguiram suspensas.

Ele afirmou ainda que o aumento do sedentarismo gerará efeitos na saúde pública, tanto em aspectos físicos quanto em emocionais.

Os perigos da prática esportiva sem supervisão profissional também foram considerados durante a Audiência Pública.

Representando as academias, Gabriel Protti reiterou a existência do protocolo, explanou sobre as dificuldades financeiras enfrentadas pelo setor e os reflexos na renda dos trabalhadores, em média, reduzida a 15%.

Fábio Henrique de Lima, em nome dos centros de treinamento físico, reclamou de dificuldades de diálogo com a Prefeitura.

A situação de personal trainers, sem vínculos empregatícios, seria ainda mais difícil.

Participações

A audiência contou com a participação de munícipes, que enviaram contribuições à discussão pelo canal de WhatsApp do Legislativo.

Entre as participações, a posição favorável à reabertura gradual por parte dos médicos Ana Helena Galvão e Dante Costa Dias.

Outras mensagens equipararam o ambiente fechado das academias ao das igrejas, onde os cultos presenciais foram autorizados com restrições.